Dicionário Feminista #67 – Passabilidade

Estúdio 31 #13 – Quem tem medo do protagonismo negro?
31 de março de 2021
Vitrine do episódio. Um fundo laranja, no topo o logo do Matriarkas seguido de "Mtrks", e em texto cirular a frase "Já DISPONÍVEL". Na base os ícones de player e o texto "Espelho, espelho...Meu? Seu? Nosso?". No centro um quadro cor de grafite, com uma imagem de uma mão segurando um espelho bem pequeno e quadrado refletindo um rosto, no fundo da imagem uma paisagem. Abaixo da imagem o texto "EP #5" e o título do episódio.
Matriarkas #5 – Espelho, espelho… Meu? Seu? Nosso?
6 de abril de 2021

Dicionário Feminista #67 – Passabilidade

Ilustração de duas pessoas conversando, com uma placa de pare no meio delas. No canto esquerdo está escrita a palavra passabilidade.

Ilustração de duas pessoas conversando, com uma placa de pare no meio delas. No canto esquerdo está escrita a palavra passabilidade.

Segundo o dicionário informal, passabilidade é a capacidade de uma pessoa ser considerada membro de um grupo ou categoria identitária diferente da sua, que pode incluir identidade racial, etnia, casta, classe social, orientação sexual, gênero, religião, idade e/ou status de incapacidade.

Todos esses aspectos são usados por nós que, vivendo em sociedade, sentimos a necessidade de reconhecer o outro a partir de certos valores pré estipulados. Alguns desses valores acabam ficando enraizados de forma que automaticamente associamos uma raça a uma classe social, ou um gênero a uma orientação sexual, ou uma idade a algum tipo de incapacitação.

A passabilidade então seria algo como um preconceito que não é encarado de forma negativa pela sociedade, ou seja, ela traria privilégios para a pessoa “passável”.

Para entender melhor esse conceito, traremos alguns exemplos práticos que podem acontecer no nosso dia a dia. João e Léo são dois homens trans que trabalham atendendo clientes em uma loja. João iniciou o processo de hormonização há dois anos e, por conta disso, tem características físicas mais associadas ao sexo masculino. Enquanto Léo optou por não passar pelo mesmo processo. Os clientes que interagem com os dois insistem em chamar o Léo pelo pronome feminino, enquanto João é chamado pelo pronome masculino e frequentemente escuta dos demais funcionários que isso acontece por ele parecer mais com um homem cisgênero. Ou seja, apesar de João ser um homem trans, ele tem uma passabilidade maior por conta de seus traços masculinos e, portanto, é mais respeitado, nesse caso, no ambiente de trabalho.

Um outro tipo de passabilidade mais comum nos Estados Unidos do que no Brasil é a passabilidade branca. Por conta da miscigenação forçada proposta pelo processo colonial, pessoas de ascendência africana, asiática e indígenas podem ser reconhecidas como pessoas brancas por carregarem mais traços de seus ascendentes brancos. Além das várias problemáticas que esse reforço do racismo estrutural pode trazer, a pessoa que é “passável” também pode sofrer dificuldades para entender sua identidade racial.

Em uma sociedade que faz questão de deixar clara as barreiras que os privilégios de raça, etnia, classe social, orientação sexual e gênero impõe uns sobre os outros, a passabilidade pode parecer facilitar muitas interações interpessoais, mas, na verdade, apenas reforça a nossa intolerância para tudo o que é diferente da gente.

Aperta o play para ouvir a nossa conversa sobre passabilidade.

* Notas de rodapé desse episódio:

Beijo da Ju para a Marcela, beijo da Teka para Dona Ines e Seu Henrique, e para Fernanda @fernandagracek

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* Fontes usadas na produção desse episódio: