Dicionário Feminista #58 – Cobrança emocional

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Dicionário Feminista #58 – Cobrança emocional

Ilustração de uma mulher sentada no sofá, com as mãos na cabeça, demonstrando tristeza e preocupação. No canto esquerdo estão as palavras "cobrança emocional"

Ilustração de uma mulher sentada no sofá, com as mãos na cabeça, demonstrando tristeza e preocupação. No canto esquerdo estão as palavras "cobrança emocional"

Segundo o dicionário, “cobrança” é o ato ou efeito de cobrar dívidas, e “emocional” é o que provoca sentimentos de grande intensidade.

Um dos aspectos humanos que é recorrente nas pesquisas feitas pela psicologia é a cobrança que depositamos nas coisas, nos outros e, principalmente, em nós mesmos. A esta última damos o nome de autocobrança. Na maioria das vezes ela surge quando experimentamos a frustração de não atingir um resultado esperado por algum tipo de falha que nós mesmos tenhamos cometido. O estímulo negativo ou positivo que recebemos diante de situações como essa tem muito a ver com as relações primárias da nossa vida, ou seja, a reação que os nossos pais ou cuidadores têm ao falharem ou presenciarem a nossa própria falha. Essa autocobrança pode tomar uma forma exagerada quando julgamos que algum erro específico terá consequências desastrosas e irreparáveis ou quando relevamos aquele famoso princípio do “errar é humano” e enxergamos qualquer tipo de falha como inadmissível.

Esse padrão comportamental pode ser visto também nas relações interpessoais, quando esse tipo de cobrança tem como objeto principal as ações e escolhas do outro. Por exemplo, quando os pais cobram de um filho uma atitude específica diante de um situação social, ou quando um professor espera que os alunos estudem para uma prova ou quando a sua chefe te cobra de um trabalho que deve ser entregue dentro de um certo prazo.

Porém, podemos acabar realizando um movimento muito parecido no nível das emoções e fazendo com que uma cobrança exista a nível de um sentimento. O amor e o carinho perdem sua característica de condição e passam a ser uma obrigação. Isso se torna muito problemático, por exemplo, quando vemos um padrão social que reitera a heterossexualidade compulsória. Nesse caso vemos uma cobrança emocional que nos obriga a amar uma pessoa específica nos termos considerados moralmente aceitos pela sociedade.

Diante de tudo isso, fica muito difícil achar espaço para amar quem queremos, mesmo quando esse amor é direcionado a nós mesmos. Ao desconstruirmos a cobrança emocional, ficam claras as vezes que os nossos sentimentos não foram escolhas. Por exemplo, quando o sexismo diz para mulheres que elas devem cuidar de todos, e para os homens que eles não podem demonstrar sentimentos; ou quando a misoginia fala para homens e mulheres que se deve odiar a tudo o que representa o feminino.

Aperta o play e vem ouvir nosso papo sobre cobrança emocional!

* Notas de rodapé desse episódio:

* Fontes usadas nesse episódio: